segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Meus óculos quebrados e a violência humana


Caracaaaaa! Vai ser o Bruno que vai bater! – dizia o vendedor ambulante no meio do bloco

Sério? - questionava um amigo-meu rubro negro

É pô! Ouvi aqui! – confirmava o ambulante enfiando seu rádio azul de pilha, na orelha do meu amigo

Pó não to ouvindo nada!

Cadê meu óculos? – perguntei, inaugurando minha fala no diálogo

Silêncio, ninguém responde. Ta ele no chão, estilhaçado, com a lente trincada.

Doeu, mais do que dói minha cabeça, depois de 12 horas sem minhas lentes. Doeu como dói, a condenação da natureza, sobre nosso delírio cultural. A verdade é que nascemos débeis, frágeis, condenados aos vícios, ao sexo, à morte, e no meu caso, com 1,5 milímetros de disfunção ocular, em cada olho.

Mas vamos recorrer à essa pena, negá-la sob todas as circunstâncias, almejando a liberdade que se concretiza no confortável e limitado espaço do útero de nossas mães. Mas a condenação, é, até onde se sabe, no mínimo, perpétua. Há sim, pequenos banhos de sol, doses de leite materno, horas de sexo e excessos.

Mas o maior tempo, passaremos dentro dessa imensa cela; a esfera terrestre. Por isso, queremos destruí-la, por isso, matamos e violentamos nossos companheiros de cárcere. A violência é anterior a internet, ao futebol, ao carnaval, ao Counter Strike. Ela surge quando somos setenciados - mesmo sem querer - a viver, e irá adjetivar nossa pena e nossa reação diante dela.
O que se pode fazer, é empurrar a violência com a barriga. Aceita-lá, em algumas modalidades: nas partidas de futebol, no jogos de videogame, nas cirurgias de astiguimatia.

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