sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Odiado, com todo o amor do mundo



Parafraseando Caetano: “é que quando cheguei por aqui, eu nada entendi. Da poesia discreta das tuas esquinas, da deselegância concreta das tuas meninas.”

Havia viajado seis horas de carro. Deixado pra trás, família, namorada e amigos. O calor da cidade era sólido. Transpirava de tal maneira, que a parte do meu pé, coberta pela tira da sandália, começava a irritar.

Eu caminhava pela Tijuca, atrás de opções para o almoço diário, o bairro era úmido e cinza, sem a brisa do mar. Se o jardim botânico, é o sovaco de Cristo, a Tijuca é a bota perdida de Judas. Parei para tomar uma cerveja, que no terceiro gole já estava quente. A cidade maravilhosa começava a me irritar.

O calor eu tirei de letra. O problema foi compreender e aceitar o andamento das coisas.Parecia que a ética carioca não estava ao meu alcance. Talvez, estivesse escondida no por do sol de Ipanema, ou em uma roda de samba na lapa.


A princípio, me rendi à cultura carioca, comecei à da valor à feijoada com samba, ao chopp em pé na calçada, ao maracanã lotado e descobri o bairro mais bonito do mundo: Santa Teresa. Não era possível que o lugar onde nasceu: Cartola, Noel, Vinícius, Machado de Assis e Lima Barreto; fosse apenas uma cidade tomada pelo tráfico, pela lei de Gerson e pelo desleixo.



Eu Vinha daquele maniqueísmo mineiro, influenciado pelo paulocentrismo vigente. Resultado da adição de uma série de culturas européias, num clima brasileiro. Tendo como arma apenas o narcisismo: negando tudo que não fosse o espelho.

Mas o Rio, me ensinou a romper com o espelho, a não ter medo de mudar. E ter coragem suficiente para mandar, de quando em vez, a racionalidade às favas. Pois o surgimento da cidade maravilhosa, veio da insensatez de construir uma cidade entre o morro e o mar.

Descubri, que o Rio tinha sido mal catequisado. Talvez os jesuítas tenham se distraído com as mulheres e as praias, e esquecido da pregação. Por isso a ética daqui está tão distante do cristianismo barroco mineiro, do espírito saxixônico sulista e do protestantismo paulista.


O jeitinho carioca, na verdade, não é a louvação do desleixo, mas a consequência dele. E no mundo de hoje, cada vez mais uniforme, peculiriadades não são bem vindas.Ainda mais, quando estão na contra mão de tudo.


Esse jeitinho, muitas vezes confundido com brasileiro, não é o ideal para os tempos de prosperidade econômica. A ironia fina, e o anarquismo nato, não cabem num tempo em que – posto que a beira de um colapso - tudo deva ser levado a sério. Onde as pessoas, sedentas por espetáculo, exponham excessivamente seus defeitos, mas não permitam críticas.


Como no mundo de hoje o certo é economicamente viável, a cidade, do chinelo de dedo e do jornal lido dentro das bancas de jornal, se torna o patinho feio brasileiro. Mas e daí? Quem amo o feio, Maravilhosa lhe parece!

Obs: Graças a filosofia do adiamento, que empurra seis horas anuais, pra debaixo do tapete, temos que de quatro em quatro anos pagar um dia de juros. Não fosse isso, o aniversário do Rio seria hoje...


Deu no JB


Empório

E o Empório, um dos mais resistentes redutos do bom rock na Zona Sul, segue sua programação regular de shows aos sábados. A grande atração da semana é o quarteto Latuya, que inclusive está em estúdio produzindo seu segundo álbum (mais detalhes http://www.myspace.com/bandalatuya), já com o novo baterista: Rodrigo Barba, ex-Los Hermanos.

Detalhe o show é hoje, sexta-feira, e não sábado. A entrada custa 10 reais e começa a meia noite

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O Abismo que cavaste com teus pés

A veja bradou e a classe média, mais uma, vez caiu



Embora o Psdb ache que não, saúde e educação públicas são coisas importantes. A classe média sabe disso, tanto que quer seus filhos em faculdades públicas, e seus avós em hospitais do governo, que são centro de excelência. Mas ela vive sobre a má influência de sua falsa amiga Veja, por isso lutou contra a cpmf e vai arcar com as conseqüências.

A Cpmf era um imposto para todos, não havia como sonegá-lo. Agora, com seu fim, a conta que era dividida por todos, vai pesar apenas no bolso daqueles que pagam juros. Ou seja, as classes mais baixas.

Isso ficou claro com a alta dos juros em janeiro e fevereiro. O governo precisava tirar o dinheiro da cpmf de algum lugar, uma das alternativas era tirar dos bancos. Os bancos por sua vez, resolveram repassar esse prejuízo para os seus clientes.

Basta observar que a variação dos juros é exatamente a mesma do spread. Spread é a diferença entre o que os bancos cobram e pagam pelo dinheiro alheio. Ou seja; você investe dez reais no banco, ele empresta esses dez para alguém e cobra 15. Esses cinco, que sobram, são o spread.

Mas os juros abusivos, não são culpa do governo, e sim da conivência dos consumidores. Que para seguir a banda da sociedade do espetáculo, pautada pelo exibismo, niilismo e, conseqüentemente, pelo consumo exagerado, não ligam de pagar uns juros aqui, e outros ali.

A economia brasileira está aquecida, em partes, pelo poder aquisitivo que vem aumentando, mas o principal fator para o aquecimento é o ímpeto de consumo dos brasileiros. Se os brasileiros consumissem apenas o que tem, não precisariam recorrer aos bancos e os bancos não cobrariam juros abusivos.


O devaneio da classe média, que insiste em brincar de elite faz suas vítimas. Ainda que alguns casos, ela seja a própria vítima.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Panic and Organic

Dando a cara a tapa

Certa vez o imortal Luis Mendes - única voz viva que narrou o gol de Gigia em 50 – declarou que um dos momentos mais tensos da sua carreira, foi quando ele palpitou a favor da saída de dois jogadores do Flamengo da seleção brasileira. No lugar deles ele propunha que entrasse um tal de Pelé e um tal de garrincha.

Não havia Globo na época, a torcida do Flamengo era menor do que hoje, mesmo assim o radialista foi apedrejado em praça pública. Mas tratava-se de Luis Mendes, Garrincha e Pelé. Imagine o que seria se fossem simples mortais.
Seriam inevitavelmente condenados ao ostracismo.

Por isso é justificável – mas não aceitável - o temor dos jornalistas em falarem da final deixando os freqüentes erros a favor do flamengo em segundo plano. Como se isso fosse assunto para os panfletários de plantão, megalomaníacos, adeptos de possíveis teorias da conspiração.

Não que haja realmente favorecimento, mas a questão deve ao menos ser levantada. Assim como deve ser levantada a questão do patrocínio de uma empresa estatal há um clube privado, comprovadamente deficitário.

Mas esses serão assuntos que dificilmente serão levantados. Afinal, para a mídia, os dirigentes corruptos são somente aqueles que batem de frente com os interesses das emissoras, aqueles que fazem valer o direito do silêncio ou que denunciam certo tipo de parcialidade.

O futebol é só um esporte, mas os pequenos gestos denunciam os grandes defeitos de uma pessoa, de um país e de suas instituições.

Como toda unanimidade é burra e toda maioria é suspeita, clique aqui
e veja uma opinião dissonante do que está por aí...

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Apanhador no campo de centeio



Não será a ultima vez em que os erros da arbitragem vão decidir um jogo. Sejam eles contra, ou favor do Botafogo. Nem será a última vez que a mídia permanecerá silenciosa, com receio de caminhar contra o vento. “Mídia imparcial” é um conceito que só cabe nos slogans dos veículos de comunicação. Basta ver o pessoal da imprensa comemorando feito loco o gol do flamengo, atrás do gol do Castillo, para comprovar isso.

Mas daí, ao presidente renunciar já é demais. Não que eu seja um desses jornalistas almofadinhas, que morrem de medo de falar mal do flamengo, e vêm presidentes de clube como pessoas públicas. Eles não passam de chefes de instituições privadas, podem abrir mão do cargo quando quiserem.

Eu apenas acho, que a decisão não alivia em nada a náusea do presidente. Lógico que é bem pior ver um juiz mandar pras cucuias o esforço de sua gestão, do que ver o homem do apito simplesmente garfar o seu time.

Mas Bebeto, leva o sobrenome “de Freitas”, e não deixará de sentir na pele a glória e o fracasso do Botafogo, só porque renunciou ao cargo. Pelo contrário, levará do seu lado o agravante de que nada poderá fazer pelo clube.

Sei que é um porre tentar descordar da maioria neste país. Sei que a maioria é tão arbitrária como foram os generais, em tempos passados. Por vezes, dá mesmo vontade de parar tudo e ver todo mundo se esculhambar de mão dadas com seu egoísmo.

Mas sabe como é; todo mundo é egoísta, e tem uns que ainda tem um estranho feitiche pela luta, uma doença sem cura. Essas pessoas Lutam, e na ressaca da batalha, dizem ter desistido. Balela logo, logo voltam a lutar.

Será o caso de Bebeto, um contagiado por essa rara doença. Que só na sua família fez duas vítimas: João e Heleno.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Aos poços-caldenses....

MÁFIA DOS SANGUESSUGAS - Geraldo Thadeu era um dos alvos, revela lobista

O jornal paulista revela que os deputados que também estavam na mira de Wilber Correa da Silva eram Leonardo Matos (PV-MG), Jaime Martins (PL-MG) e Ademir Camilo (PDT-MG)


O depoimento do empresário Luiz Antônio Vedoin à Justiça de Mato Grosso, em julho, revela que o esquema dos sanguessugas estava terceirizando o lobby em busca de parlamentares que aceitassem participar da apresentação de emendas em favor das empresas de sua família, segundo noticiou o jornal "O Estado de S. Paulo". Um dos alvos seria o deputado federal Geraldo Thadeu (PPS).

O principal agente "terceirizado" era, segundo revelou Vedoin, Wilber Correa da Silva, ex-chefe de gabinete do ex-deputado federal Zé Índio (PMDB-SP). Wilber foi detido em maio, quando a Polícia Federal promoveu uma ação para prender acusados de envolvimento no direcionamento de licitações para compra de ambulâncias.

Em seu depoimento, Vedoin afirma que "no final de 2005 Wilber atuava como lobista, fazendo contato com deputados e assessores para conseguir recursos para entidades". Nessa função, ele informava a família Vedoin sobre emendas para saúde e ciência e tecnologia.

NA MIRA

O jornal paulista revela que os deputados que estavam na mira de Wilber, segundo Vedoin, eram Leonardo Matos (PV-MG), que destinou R$ 800 mil para a área da saúde; Jaime Martins (PL-MG), que subscreveu R$ 3 milhões para o setor; Geraldo Thadeu, que assinalou R$ 2,8 milhões para a saúde; e Ademir Camilo (PDT-MG), que destinou R$ 2 milhões para a saúde e mais R$ 400 mil para tecnologia.

No depoimento, Vedoin afirma que não chegou a fazer negócios com os deputados citados. "O interrogando (Vedoin) não trabalhava com esses deputados ainda e o interrogando não chegou a fazer nenhuma tratativa com esses deputados até porque todas essas emendas eram para o exercício de 2006."

Geraldo Thadeu, em entrevista ao jornalista Chico de Góis, disse conhecer Wilber, mas negou que ele o tenha procurado para oferecer negócios. "Ele me procurou em 2003 em busca de emprego, mas eu não o empreguei." Em 2005, segundo o deputado, o lobista voltou a conversar com o parlamentar para lhe oferecer um serviço de telemensagem que teria sido recusado.


Fonte: Jornal da Cidade


Pitacos do eu sozinho:

Como todo político que se preze, Geraldo obviamente pode negar as acusasões. Mas o portal Transparência Brasil, mostra Geraldo como dono de um dos maiores patrimônios, dentre os deputados mineiros. Além disso, constam que suas campanhas foram financiadas por inúmeras empresas da área de saúde, area na qual Vedoin atuava. O Deputado também foi citado no caso conhecido como valérioduto.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Conversa de Democratas

- Vossa Excelência uma CPI dá muito trabalho!

- Mas o uso de dinheiro público deve ser coibido!

- Mas vossa excelência, são 26 reais. Isso não dá nem para o senhor comprar uma calcinha na Daslu para sua amante. Não da para comer um misto-quente no Mediterrâneo!

- Isso, brilhante idéia! Criaremos uma CPI mista! Já que o trabalho é o mesmo! Assim julgaremos o caso da tapioca também!

- È ai eu concordo, que mau gosto tremendo desse pessoal de esquerda! Onde já se viu usar dinheiro público para comer tapioca!

- Sabia que você ia concordar comigo! Vinte e seis reais num almoço para duas pessoas, que absurdo! Esses Barbudos devem ter comido num self-service da vida!

- Mãos de vaca! Muquiranas! O César Maia está certo, esse governo não sabe usar dinheiro público.

- Não aprenderam que dinheiro público foi feito para seções extras na câmara, obras eleitoreiras e estatais que mais tarde serão privatizadas.

- Lamentável, vamos tomar um cabernet chileno?

- Vamos, mas eu pago.

- Tudo bem, mas essa história vai acabar vamos propor na câmara o auxílio extravagância!

- Brilhante idéia!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Panic and Organic

Cuidemos do nosso nariz!


Não está na moda falar bem da esquerda, já imagino o Jabour – hoje no jornal da Globo - dizendo que a renúncia de Fidel é o início de um novo tempo. As professoras irão mandar seus alunos escreverem sobre o assunto. Darão zero aos alunos que, como eu, palpitarem a favor do ex-presidente cubano. Pois, elas acreditam que os alunos devam ser politizados - à sua imagem e semelhança, é claro.

Mas eu não caio nessa onda de que os grandes líderes estão fora de moda. Porque eles, sempre irão existir, seja trajando fardas, ou trajando ternos, à frente de grandes corporações econômicas.

Há a idéia de que esses homens de terno são menos tiranos. Na verdade, são vítimas do jogo que propõem: da redução da personalidade do ser humano á sua atividade econômica. Por isso, ficam com imagem mais intacta e nunca cedem á vontade do povo, apenas aos devaneios do mercado.

Cuba não é uma empresa, nem o povo de lá tem a mentalidade nefasta de um administrador de empresas. Por isso, será difícil prever qual o futuro da ilha. O sucesso de Raul no poder, dependerá da aceitação de sua personalidade como líder cubano, pois para os cubanos – freqüentemente retratado como um povo oprimido – o olho no olho ainda tem muito valor.

Para cuba é um término de um longo relacionamento, com o agravante, de que um novo companheiro deva ser escolhido. Rapidamente, antes que o mundo capitalista o faça. Pois este, com certeza irá palpitar, com o presságio de que a liberdade deve imperar na pequena ilha.

Liberdade essa, que leva o mundo pro buraco. Liberdade essa, que nos condena ao trabalho. Liberdade essa, que elege líderes do naipe de Alemão, Rogério Ceni, Ivete Sangalo, Paris Hilton e por ai vai.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Como se fosse flor, que não se cheira


Tem gente que acha que meus ataques ao axé, são gratuitos. Pois bem clique aqui e veja o que a Ivetinha linda, sexy e simbolo do povo batalhador Baiano vem fazendo com o nosso suado dinheiro.

Mainardi sua anta!



Aquele jornalista (?) fascista - esse sim, sem contestação – garoto mimado da zona-sul carioca, chamado Diogo Mainardi deve estar mordendo seu travesseirinho de raiva. Tudo porque ele foi se meter com o jornalista (!) Luis Nassif, e deu com as antas na água.

Mainardi - tal qual um menininho de playground que vê pela frente alguém mais forte que ele - tremeu com a possibilidade de ser desmascarado por Nassif,em sua série sobre a crise da Veja. Não disse que ia chamar o pai, mas sim suas as fontes italianas que, segundo ele desmascaram qualquer jornalista.

Mas nassif não é garoto e não temeu a ameaça, pelo contrário, usou-a para ridicularizar ainda mais Mainardi.Confira aqui!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

A festa da matilha!


Hoje o beco do rato comemora seu aniversário de um ano. Como definir o beco do rato? Ele fica numa rua daquelas que ao passar todo mundo confere os bolsos, ou coloca a bolsa debaixo do sovaco. Lá já morou Manuel bandeira, o que não embeleza, mas da crédito ao lugar.

O nome não atrai, o lugar menos ainda. Mas lá é lugar de samba – samba mesmo, corda, coro e gogó – cinema e poesia. Não é lugar pro pessoal da Vila Olímpia, do tricolor do Morumbi, do inimigos da hp.

Arrisco que hoje seja dia de samba. Mas não posso postar a programação, porque só da para saber indo lá. Fazer o que? Os ratos são mais fiéis que ........ deixa para lá

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Os Fascistas somos nós!



Espiral do Silêncio, é um termo usado por jornalistas, sociólogos e todo o pessoal de humanas que gosta do cigarrinho do diabo e apanha do Capitão Nascimento. Ele qualifica um fenômeno midiático, no qual os jornais reproduzem uma opinião taxativamente, então a população passa a aceita-lá e a minoria de divergente se cala.

A grande mídia – reacionária – usa essa técnica freqüentemente. Exemplos não faltam; vá argumentar com leitores da Veja e do Globo que o mensalão não começou no governo Lula, que a culpa da violência não é do usuário, que o fim da Cpmf é tão ruim quanto as privatizações, ou que os sanguessugas beneficiavam o Psdb e não o PT.

Mas a verdade é que nem o pessoal da esquerda está livre deste processo. O Tropa de Elite prova isso. Foi só alguém dizer que ele era fascista, e pronto, o pessoal vestido de vermelho começou a bradar isso para todo lado. Nunca, nenhuma dessas pessoas me disse ao certo porque o filme é fascista, apenas citaram o caráter beligerante do filme. Mas isso não basta.

Se for assim, Tarantino e Scorsese deixam Leni Riefenstahl no sapato. Na minha opinião - e eu já disse isso aqui - o filme é cultura Pop, sem ponto de vista algum. Portanto o que houve – como em grande parte dos casos de espiral do silêncio – foi um esvaziamento semântico do termo fascismo. Ou seja, a expressão de tanto ser usada inadequadamente teve o sentido alterado, mas ninguém percebeu.

Uma prova disso é que os jornais alemães – que aprovaram ou não o filme – concordaram em dizer que o filme não é fascista. E os alemães entendem mais de fascismo que nós.

Mas existe uma outra hipótese: como a obra não tem ponto de vista algum, a visão que a maioria teve do filme acabou sendo confundida com a idéia central dele. Pois para mim, não fica claro no script, que o Capitão Nascimento seja um herói.

Reitero minha posição que tropa de elite é um filme nulo, quase inócuo. Porém, num país que não detém - nem domina - a própria linguagem, a mais inócua das opiniões pode ser desdobrar em uma enorme polêmica.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Classe A!


Comprovadamente não sou uma pessoa importante! Não fui chamado para o lançamento da Zé pereira, mesmo puxando o saco da revista. Mas se o Publisher do Blog não foi, a Chargista que estreiou essa semana foi. Não sei se vou, o saco com certeza vou continuar puxando. Fica aí o convite

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Agoniza Mas não Morre





Vi aquele senhor atravessar os arcos, vindo da zona norte, em direção à parte globalizada da Lapa. Era negro, tinha os cabelos brancos e o sorriso amarelo. Na medida em que caminhava em direção a zona sul, ouvia o som dos tambores ficar distante.

Entrou em uma das ruas do centro do Rio, sentiu-se sufocado pelas imensas paredes concretas ao seu redor. Era como se fosse uma prosopopéia do samba, escondido, esquecido, quase imperceptível no meio de tanta técnica e alegoria. Era a poesia se calando perante à suntuosidade.

Seu nome era Paulo, Argemiro, Monarco, José ou João. Na manha cinzenta da quarta-feira de cinzas, trajava um terno branco. Sob o paletó uma camisa azul, seu chapéu havia caído na linha. Em tempos atrás seu terno codificaria que ele vinha de Oswaldo cruz. Hoje, não mais.

Poderia vir de qualquer outro região pobre e esquecida, mas que tem seus heróis não no samba, mas na grana. Por mais que aquele azul - que não era do céu, nem era do mar - fosse inconfundível, poderiam achar que ele vinha de outra agremiação. Isso, é claro, se ele fosse percebido. Pois numa época, que samba vira adorno para roda gigante, velhos negros de ternos brancos, não são notados

Ele entrou na rua Primeiro de Março, a artéria aorta do coração econômico do Rio de Janeiro. Ela, novamente, de vagar, começava a pulsar. Na medida em que o coração boêmio da cidade parava, pois o sangue – leia-se dinheiro – começava, novamente a circular em direção ao centro da cidade.

Enquanto o silêncio predominante, era cortado por alguns carros e alguma brisa, o senhor ouviu o ecoar de uma cuíca. Desafinada, sustenida, quase como um derradeiro suspiro de um doente terminal. Como o último acorde de uma ópera.

Imediatamente veio na sua cabeça uma melodia, e em tom de prece ele cantou: Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar.

Panic And Organic

Como prometido, a dupla que disputa o controle do mundo estréia hoje no Blog

Por Catatau:

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Uma ofegante epidemia ...


Por falha minha tive que voltar aqui hoje, só para avisar que o blog só volta a funcionar dia 11 de feverreiro, a primeira segunda do ano após o carnaval. Com a estréia da série Don´t Panic! It's organic!, da dupla Panic e Organic que disputam o controle do mundo. Para não perder a viajem postarei uma das mais interesantes crônicas sobre o Carnaval. Até ve-los

Batalha no Largo do Machado, de Rubem Braga

É um profundo samba orfeônico para as amplas massas. As amplas massas imploram. As implorações não serão atendidas. As amplas massas amaram. As amplas massas hoje estão arrependidas. Mas amanhã outra vez as amplas massas amarão... As amplas massas agora batucam... Tudo avança batucando. O batuque é uniforme. Porém dentro dele há variações bruscas, sapateios duros, reviramentos tortos de corpos no apertado. Tudo contribui para a riqueza interior e intensa do batuque. Uma jovem mulata gorducha pintou-se bigodes com rolha queimada. Como as vozes se abrem espremidas e desiguais, rachadas, ritmadas, e rebentam, machos e fêmeas, muito para cima dos fios elétricos, perante os bondes paralisados, chorando, altas, desesperadas!

Como essas estragadas vozes mulatas estalam e se arrastam no ar, se partem dentro das gargantas vermelhas. Os tambores surdos fazem o mundo tremer em uma cadência negra, absoluta. E no fundo a cuíca geme e ronca, nos puxões da mão negra. As negras estão absolutas com seus corpos no batuque. Vede que vasto crioulo que tem um paletó que já foi dólmã de soldado do Exército Nacional, tem gorro vermelho, calça de casemira arregaçada para cima do joelho, botinas sem melas, e um guarda-chuva preto rasgado, a boca berrando, o suor suando. Como são desgraçados e puros, e aquela negra de papelotes azuis canta como se fosse morrer. Os ranchos se chocam, berrando, se rebentam, se misturam, se formam em torno do surdo de barril, à base de cuícas, tamborins e pandeiros que batem e tremem eternamente. Mas cada rancho é um íntegro, apenas os cordões se dissolvem e se reformam sem cessar, e os blocos se bloqueiam.

Meninas mulatas, e mulatinhas impúberes e púberes, e moças mulatas e mulatas maduras, e maduronas, e estragadas mulatas gordas. Morram as raças puras, morríssimam elas! Vede tais olhos ingênuos, tais bocas de largos beiços puros, tais corpos de bronze que é brasa, e testas, e braços, e pernas escuras, que mil escalas de mulatas! Vozes de mulatas, cantai, condenadas, implorai, implorai, só a Deus, nem a Deus, à noite escura arrependidas. Pudesse um grande sol se abrir no céu da noite, mas sem deturpar nem iluminar a noite, apenas se iluminando, e ardendo, como uma grande estrela do tamanho de três luas pegando fogo, cuspindo fogo, no meio da noite! Pudesse esse astro terrível chispar, mulatas, sobre vossas cabeças que batucam no batuque.

O apito comanda, e no meio do cordão vai um senhor magro, pobre, louro, que leva no colo uma criança que berra, e ele canta também com uma voz que ninguém pode ouvir. As caboclas de cabelos pesados na testa suada, com os corpos de seios grandes e duros, caboclos, marcando o batuque. Os negros e mulatos inumeráveis, de macacão, de camisetas de seda de mulher, de capa de gabardine apenas, chapéus de palha, cartolas, caras com vermelhão. Batucam!

Vai se formar uma briga feia, mas o cordão berrando o samba corta a briga, o homem fantasiado de cavalo dá um coice no soldado e o cordão empurra e ensurdece os briguentos, e tudo roda dentro do samba. Olha a clarineta quebrada, o cavaquinho oprimido, o violão que ficou surdo e mudo, e que acabou rebentando as cordas sem se fazer ouvir pelo povo e se mudando em caixa, o pau batendo no pau, o chocalho de lata, o tambor marcando, o apito comandando, os estandartes dançando, o bodum pesando.

Mas que coisa alegre de repente nesses sons pesados e negros, uma sanfoninha cujos sons tremem vivos, nas mãos de um moleque que possui um olho furado. Juro que iam dois aleijados de pernas de pau no meio do bloco, batendo no asfalto as pernas de pau.

Com que forças e suores e palavrões de barqueiros do Volga esses homens imundos esticam a corda defendendo o território sagrado e móvel do povo glorioso da escola de samba na Praia Funda! No espaço conquistado as mulatas vestidas de papel verde e amarelo, barretes brancos berram prazenteiras e graves, segurando arcos triunfais individuais de flores vermelhas. Que massa de meninos no rabo do cortejo, meninos de oito anos, nove, dez, que jamais perdem a cadência, concebidos e gerados e crescidos no batuque, que batucarão até morrer!

De repente o lugar em que estais enche demais, o suor negro e o soluço preto inundam o mundo, as caras passam na vossa cara, os braços das que batucam espremem vossos braços, as gargantas que cantam exigem de vossa garganta o canto da igualdade, liberdade, fraternidade. De repente em redor o asfalto se esvazia e os sambas se afastam em torno, e vedes o tão molhado, e ficais tristes, tendes vontade de chorar de desespero.

Mas outra vez, não pára nunca, a massa envolve tudo. Pequenos cordões que cantam marchinhas esgoeladas correm empurrando, varando toda massa densa e ardente, e no coreto os clarins da banda militar estalam.

Febrônio fugiu do Manicômio no chuvoso dia de sexta-feira, 8 de fevereiro de 1935... Foi preso no dia 9 à tarde. Neste dia de domingo, 10 de fevereiro pela manhã, o Diário de Notícia, publica na primeira página da segunda seção:

“A sensacional fuga de Febrônio, do Manicômio Judiciário, onde se achava recolhido, desde 1927, constitui um verdadeiro pavor para a população carioca. A sua prisão, ocorrida na tarde de ontem, veio trazer a tranqüilidade ao espírito de todos, inclusive ao das autoridades que o procuravam.

Que repórter alarmado! Injuriou, meus senhores, o povo e as autoridades. Encostai-vos nas paredes, população! Mas eis que na noite do dia chuvoso de domingo, 10 de fevereiro, ouvimos

“Bicho Papão
Bicho Papão
Cuidado com o Febrônio
Que fugiu da Detenção..."

Isso ouvimos no Largo do Machado, e eis que o nosso amigo Miguel, que preferiu ir batucar em Dona Zulmira, lá também ouviu, naquele canto glorioso de Andaraí, a mesma coisa. Como se esparrama pelas massas da cidade esparramada essa improvisação de um dia? As patas inumeráveis batem no asfalto com desespero. O asfalto porventura não é vosso eito, escravos urbanos e suburbanos?

A cuíca ronca, ronca, estomacal, horrível, é um ronco que é um soluço, e eu também soluço e canto, e vos também fortemente cantais bem desentoados com, este mundo. A cuíca ronca no fundo da massa escura, dos agarramentos suados, do batuque pesadão, do bodum. O asfalto está molhado nesta noite do chuvoso domingo. Ameaça chuva, um trovão troveja. A cuíca de São Pedro também está roncando. O céu também sente fome, também ronca e soluça e sua de amargura.

Nesta mormacenta segunda-feira, 11 de fevereiro, um Jornal diz que “a batalha de confete do Largo do Machado esteve brilhantíssima". Repórter cretiníssimo, sabei que não houve lá nem um só miserável confete. O povo não gastou nada, exceto gargantas, e dores e almas, que não custam dinheiro. Eis que ali houve, e eu vi, uma batalha de roncos e soluços, e ali se prepararam batalhões para o Carnaval - nunca jamais “a grande festa do Rei Momo" - porém a grande insurreição armada de soluços.

Fevereiro, 1935