sexta-feira, 28 de março de 2008

Mosca na sopa


Tão pequeno, mas conseguiu unir governo e oposição em torno de um mesmo objetivo – que não fosse o mensalão.
Tão pequeno, mas colocou o pessoal do “Cansei!” e do bolsa família do mesmo lado.

Tão pequeno, mas fez com que a dor de Luciano Huck fosse a mesma do seu Odair, um gari que morava em bangu.

Tão pequeno, mas nos despertou do pesadelo de uma crise econômica catastrófica, para lembrar que somos muito menos. E que apesar de toda o determinismo econômico, estamos à merce da morte pela picada de um mosquito.

Enquanto isso, Lula chega a 73% de aprovação. Prova que os factóides plantados pela mídia, são bem mais insignificantes que ovos na água parada.

E como as águas do Brasil permanecerão inertes, Lula irá fazer seu sucessor. O sucessor de um presidente que mosquito nenhum derruba.

terça-feira, 25 de março de 2008

Galo: dono do tereiro, mas sem crista


Uma homenagem ao Clube Atlético Mineiro, que há cem anos caminha contra o vento...

Fala pro cês que num foi fácil viu? Na base da bola de meia, na beirada de um barranco, matando aula pra jogar bola e fazer história.
Como que o tempo voa, já faz cem anos isso sô! Parece que foi ontem que nois ganhemo o primeiro título nacional de um clube desse brasilzão! E mais tarde conquistemo o primeiro campeonato brasileiro!

Antes né, já eramos o maior campeão mineiro! Na época em que todo mundo só falava do cruzeiro, fomo lá e derrubamo o João Saldanha. Ganhamo do time que ia se Tri, com dois gol do Dadá. Que o João não convocava de jeito maneira. Ô sujeito teimoso sô!

Mas o Jão era boa pessoa, comunista. Gente do povo, quinem o Reinaldo. Contestador, engajado, bem mió que o tal do Tostão. Craque, inteligente...mas mansinho demais!

Tivemo que lutar contra o juiz também. Em 77 ele foi são paulino, em 80 flamenguista. Mas o mineiro que só é solidário no cancêr, foi gente boa na derrota também. Cantaram o hino e fizeram mais festa que as marias de São Paulo.

Ai veio Marques, Éder, Cerezo, Gilberto Silva, Tafarrel e Comenbol. Duas por sinal, mas título e coisa pras marias, fazer o quê? Nois temos mais que isso, temo torcida uai...

quarta-feira, 19 de março de 2008

O homem, o menino e nós...


Era um Colora pomposo e preto, um motorista branco, tão robusto quanto o carro. Igualmente agressivos, o carro e o dono, cada cal a sua maneira. O primeiro estacionado, o segundo inerte, na sua ignorância, chacoalhando um menino. Iguais a milhares, de cabelos ralos e oxigenados, de camisa de colégio público.

Sua mãe e seu pai, sabem que você rouba? - Dizia o homem que se dizia policial.

O menino nada falou. O Homem não estava nem ai para sua resposta, como não se importaria se ele nem tivesse pai ou mãe. Para os policiais - que se orgulham de não terem nível superior - muitos verbos são intransitivos: questionar, agredir, humilhar e extorquir.

O homem segurava uma faca, as pessoas ao redor, diziam que ela foi usada para ameaçar a filha dele.
Tudo isso acontecia em frente ao colégio que o menino estudava.

Todos para dentro! Berrava a professora

Senta ai! Esgoelava o homem

Ambos com uma autoridade perplexa, diante da complexidade do fato. Tendo como combustível a ira e como resultado o medo - que com certeza se tornará revolta.

As crianças entraram, o menino sentou.

O olhar das crianças era de perfeita compreensão, pois a sociologia da miséria não tange os policias, muito menos os professores. A faca foi entregue a professora. Era uma faca dessas de restaurantes populares, sem serra. Inofensiva, se comparada a outras armas que existem por ai, como imunidade parlamentar, por exemplo.

Apenas uma senhora defendia o menino, com o argumento óbvio, de que violência não se combate com violência. Mas vai dizer isso a professores e policiais que tem o compromisso social intransigente de conseguir compra um Corola.

Os demais tinham seus segundos de especialistas em segurança. Palpitavam em qual a melhor punição para o menino. Lembravam de inúmeros casos de violência urbana. Mas não pensavam em questionar em como um policial, por melhor remunerado que fosse, teria uma carro de 150 mil reais. Isso porque, ele admitiu ter quatro filhos.

As vezes, as taxas de criminalidade me surpreendem. Dada a precariedade da sociedade, deveriam ser bem maiores.

Homenagem aos 200 anos da publicidade no Brasil.*


Estudiosos divergem quanto a data exata do primeiro anúncio nas Terras de Vera Cruz. Mas sabe como é? Para publicitários não existem fatos, só versões....

Panic e Organic

terça-feira, 18 de março de 2008

Perdemos feio


Pelé e Maradona marcaram gols marcantes.

Em um deles Maradona correu, raivoso, cuspindo em direção às câmeras.

Em um deles, ou melhor, no milésimo deles, Pelé homenageou as criancinhas de rua.

Ambos estavam ébrios. Maradona de efedrina, Pelé de demagogia.

Maradona foi pego no anti-doping horas depois.

Pelé foi flagrado, anos mais tarde, dando um calote no Unicef.

Maradona tem tatuado no braço Che Guevara. Figura polêmica, Herói argentino.

Pelé tem tatuado no dna a mania de clamar por um mundo melhor, e não faze-lo quando está ao seu
alcance. Um vilão Brasileiro.

Dentro de campo Pelé foi superior. Assim como o Brasil.

Fora dele, Maradona. Assim como a Argentina.

Pelé é um retrato de um país tão talentoso quanto inócuo

Maradona o retrato de um país petulante, como soa toda a inteligência que destoa

E o retrato de Pelé ao lado do Ricardo Texeira diz tudo

Enquanto o de Maradona, ao lado de Fidel, Chavez, Morales - ou seja lá quem for - deixa a pergunta:

Não seria melhor ser derrotado, somente dentro de campo?

segunda-feira, 17 de março de 2008

Reunidos e desagregados

Deu na Folha Online
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta segunda-feira, durante o programa de rádio "Café com o Presidente", que os programas governamentais destinados a aumentar o número de universitários no Brasil são responsáveis por uma "pequena revolução" no sistema educacional.
Revoluções nem sempre vem para o bem, é preciso ressaltar. Mas vai dizer isso para o pessoal da extrema esquerda. Caso diga, lembre então, da revolução industrial só para mostrar que não está de mãos vazias.


Porque eu digo isso? Porque sei bem que essa declaração do Lula, vai doer muito mais no calo da esquerda, do que no calo da “oposição de ocasião”. O presidente referiu-se ao Reuni, o programa que causa ojeriza em onze entre dez Dces, das faculdades que aderiram ao programa.

Dces esses, que são focos da ideologia dos partidos da extrema esquerda. Reitorias essas que são focos da ideologia do Governo Lula.

Essa instrumentalização ideológica das partes envolvidas, já torna o assunto ainda mais polêmico. Por isso, como pauta para outro trabalho que desempenho, em janeiro último, tentei fazer uma matéria que poria fim nas minhas dúvidas - e esclareceria o assunto para quem quisesse ouvir.

A pauta caiu, as dúvidas não – embora fraquejaram consideravelmente. Um dos dois lados não quis falar e, pasmem, foram os estudantes. Há aquele velho ditado de que quem não deve não teme, que lembra aquele outro: “quem cala consente”.

E este silêncio me fez inclinar mais para o lado do governo, embora sem grande convicção. Pelo simples motivo, que os maiores questionamento feitos pelos Dces, foram esclarecidos pelo Mec. Enquanto o contrário não aconteceu.

Aqui fica o espaço para quem quiser se pronunciar. Acredito que liberdade de imprensa pode ser um eufemismo burguês. Só não espero, que a "expressão festiva", se torne uma verdade incontestável.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Coisas que nunca mudam....


O Fla sob ameaça de despejo

Por Gilmar Ferreira

O momento pelo qual passa o Flamengo fora de campo não é mesmo dos melhores.

Os salários dos jogadores vão para o segundo mês de atraso (terceiro para funcionários e comissão técnica) e há credores recebendo suas dívidas, por ordem judicial, no guichê do Maracanã.

Para se ter uma idéia, uma empresa de segurança contratada na gestão Edmundo Santos Silva ganhou na Justiça o direito de receber, já computados juros e correção, cerca de R$ 10 milhões, dinheiro que tem saído das rendas do clube.

No último clássico com o Botafogo, por exemplo, a cota caiu de R$ 700 mil para R$ 250 mil.

O aperto já gera constrangimento.

Na terça-feira, véspera da partida contra o Mesquita, o clube por pouco não foi impedido de concentrar seus
jogadores no hotel da rede Windsor, na Barra da Tijuca, por dívidas que beirariam os R$ 25 mil.

Para não ficar ao léu, foi preciso que o vice-presidente financeiro José Carlos Dias se responsabilisasse por uma das três parcelas atrasadas _ cada dia de concentração custa cerca de R$ 8 mil.

A direção da rede hoteleira já estuda a possibilidade de interromper o acordo promocional com o clube.

Aliás, circula pelos bastidores da Gávea uma informação que pode dar pano para manga.

Diz-se que, pelo novo contrato com a Petrobras, os jogadores do Flamengo não podem mais tirar a camisa para comemorar seus gols.

Sob pena de serem multados...

Pitacos do Eu Sozinho: Os jornais não noticiaram o fato. Assim como, não questionaram o fato de novamente um árbitro inexperiente - mais conhecido pelos erros, do que pelos acertos - ser escalada para um clássico tão polêmico. O espírito do Caixa d' Água permanece na Ferj. Uma pena, o futebol paulista agradece!

quinta-feira, 13 de março de 2008

Cresce, mas não amadurece


O Brasil acordou boquiaberto diante do crescimento de 5,4% do PIB. Até mesmo a Folha de São Paulo, louvou o fato, embora tenha injetado uma certa dose ocasionalidade a ele. Disse, serem sim, números animadores, mas tirou os méritos do governo, ao dizer que ocorreram apesar da falta de investimentos estruturais.

Por um lado isso é verdade, já que no Brasil, bons momento econômicos adiam investimentos e precedem crises. Mas isso não significa que o governo não invista em estrutura, pois os frutos destes investimentos não serão imediatos.

Mas esse não é o único erro da mídia ao tratar o tema. Como bem salientou Luciano Martins, no OI , medir o sucesso de uma economia pelo PIB, é um erro. É preciso analisar como ele foi alcançado.

Primeiro deve-se avaliar o custo ambiental disso. Ou seja, o que se perdeu de matéria prima para chegar a esse número. Isso constata a solidez do crescimento, pois imagine que para vender um número recorde de sacas de café, o fazendeiro X tenha acabado com toda a sua plantação.

Além disso, os custos sociais devem ser observados. Através deles, pode se verificar se este crescimento vale a pena. Se as leis trabalhistas estão sendo cumpridas, e mais ainda, se o bolo está sendo repartido enquanto cresce. Senão, de nada adianta tantos números.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Um jogo decidido nos detalhes... que pena!


A reforma tributária é algo importante para o país, pois gera emprego e consequentemente
pode trazer o tal crescimento, tão prometido nas eleições passadas. Mas já disse isso aqui, e vou repetir: a grande parte do políticos se lixa para o povo brasileiro, só querem seus votos.

Por isso, a parte importante da reforma, que viabilizaria um crescimento significativo ao país, ficará em segundo plano. Desoneração de máquinas, ou automóveis; fim do imposto sobre exportação ; e critérios para subsídios e linha de créditos, perderão espaço para acordões com vista ás eleições que se aproximam.

Tudo porque um dos pontos – importantes, lógico, isso é inegável – da reforma, diz respeito a guerra fiscal. Ou seja, a diferença de impostos cobrados por cada estado. Os estados “exportadores” querem que a maior parte do imposto seja cobrado na hora da saída. Já os “importadores” querem, que fora o ICMS (2%), os demais encargos sejam cobrados no destino.

O governo está de acordo com os “importadores”, já os tucanos com os “exportadores”. Uma vez que São Paulo, O Corinto tucano, é um grande “exportador”. Mas isso, não será decidido por eles e sim pelo legislativo. Ai que começa o imbróglio...

A votação poderá se tornar uma imensa troca de favores, entre os governadores e os deputados. E estas uniões serão formadas, muito menos com a intenção de beneficiar os próprios estados, do que para salvarem o próprio mandato. Ou no caso dos oposicionista, ferrar com o mandato alheio.

Só mesmo a mídia poderá barrar esse acordão. Mostrando que a guerra fiscal não é ultimo biscoito do pacote, e que outros pontos, menos eleitoreiros, merecem atenção. Mas cá entre nós, esperar algo da mídia ou dos políticos é uma tarefa quase impossível.

segunda-feira, 10 de março de 2008

A história, segundo os segundos


Como prever que um dia ensolarado, viraria trágico após um fugaz pé d'agua?

Como prever que uma iminente e sangrenta guerra, seria abafada de forma meteórica e diplomática? Tanto que Carta Capital e Veja, chegaram velhas às bancas, nesta semana, com suas capas panfletárias apoiando um dos dois lados. Uma prática nova, de um retrocesso comum

Como prever que um artista da bola, sairia de cena devido há um acidente de percurso? A pintura que Dodô fez, na quarta-feira, pode ter sido a última de sua carreira, na libertadores.

Porque, dentro do bloco do tempo, só temos acesso ao presente e ao passado? E nunca ao futuro?

Um dos maiores mistério acerca do tempo perde sentido.

O impenetrável futuro é, mais do que nunca, questão de segundos. Esperar poupa mais tempo do que especular. O Passado por sua vez é cada vez mais distante. Tudo é tão rápido que eu nem me lembro...

quinta-feira, 6 de março de 2008

Três cores que traduzem muita coisa


Um carioca, no Morumbi, se enroscou, cotovelou e foi cotovelado. Botou a bola pra dentro, com raiva e pragmatismo, e saiu batendo no peito. Com confiança e alívio. Nada mais paulistano em um time branco, que leva o nome da cidade cinza.

Um paulistano, no Maracanã, deu e recebeu passes. Fez gols, alguns convertidos e outros doados. Colocou a bola lá dentro, com maestria e calma, e saiu sorrindo, rumo ao pó de arroz. Simplesmente feliz. Nada mais carioca em um tricolor laranja, que leva o adjetivo de quem nasce no estado, cuja a capital não tem cores que a defina.

Há pessoas que nascem muito longe do seu lugar de origem.


Em tempo: Após o golaço do Dodô, eu me senti como aquele cara que vê a ex-namorada inacreditavelmente linda.

Panic e Organic

quarta-feira, 5 de março de 2008

Suprema Ignorância



O discurso secular da direita, constantemente, soa como velho. Por isso muda-se o nome dos partidos, os personagens centrais e, até mesmo, foco da discussão. Desde que velhos conceitos e interesses se mantenham intactos. É justamente isso que acontece na polêmica que envolve o uso de células-tronco em pesquisas.

Há setores reacionários, que acreditam em uma espécie de determinismo teocrático. Segundo eles, pobres, doentes e loucos nascem assim pela vontade de Deus, e qualquer tentativa de mudar essa situação seria um sacrilégio.

Mas o estado brasileiro é laico, e a lei de Deus não vale no Congresso. Por isso, a bancada cristã contrária a pesquisa com células-tronco foi derrotada. Mas a questão foi para no Supremo Tribunal de Justiça (STF). Tudo porque para o ex-procurador geral da República, Claudio Fontelles, a pesquisa não só fere à lei de Deus, como à lei dos homens.


Para ele, a pesquisa fere o direito dos embriões à vida: "Há um artigo na constituição que diz que para constituirmos a dignidade é o princípio da inviolabilidade da vida que não pode ser eliminada,"afirma. Ou seja, para manter a sua crença, Claudio Fontelles recorreu a um artigo confuso e subjetivo da constituição, não totalmente livre da crenças cristãs.

Um artigo meramente especulativo, que devaneia fora da linha de tempo espaço que deve restringir qualquer lei. Dizer onde começa a vida é no mínimo uma pretensão, pois durante séculos não se obteve uma resposta exata, por parte da ciência, acerca do assunto.

Além disso, trata-se de uma contradição para uma constituição que se diz laica. Seria como se a lei determinasse que Deus criou o universo, que Madalena não teve um caso com Jesus. Enfim, como se a lei, resolvesse palpitar em questões milenares sem uma resposta definitiva.

Ao relembrar tão contraditório artigo, Claudio Fontelles, deveria ter o bom senso de repensá-lo. Mas não, é mais fácil matar embriões, do que se enterrar um velho preconceito.

terça-feira, 4 de março de 2008

Foi Ontem!


Comi Barriga, foi ontem e eu me esqueci. Aniversário de Jards Macalé, um dos caras mais geniais da música brasileira. O expoente, ao lado de Wally Salamoon, do Woodstock caboclo do hemisfério sul. Instrumentista, letrista, ator, frustado jogador de futebol, que herdou do esporte o codinome Macalé. Uma homenagem ao pior jogador do Botafogo na época em que ele se aventurava nas peladas de Ipanema. Queria postar o vídeo da medley Vapor Barato/Starway to Heaven, mas fiquei com mal secreto, sua e de Luis Melodia, Famosa na voz de Gal Costa.... cliqClique aqui

segunda-feira, 3 de março de 2008

Zico nunca existiu


Artur era o goleiro de um time pequeno. Desses esquecidos, que na década de oitenta, por culpa do inchaço no campeonato brasileiro se aventurou na elite do futebol do país. Mais do que isso, teve a honra de enfrentar, no maracanã, o Flamengo de Zico, Adílio e Júnior. Honra como a de um burguês, que é convidado para a festa da nobreza; em que é preciso ter mais cautela do que gratidão, para que o convite não vire ultraje.

Artur não ligou para o placar, sabia que seria derrotado. Queria apenas defender um penalti, do seu xará. Um daqueles penaltis que Arthur jamais errou, que de lambuja batia de fora da área, com barreira na frente, sem esconder, do goleiro, o canto que ia fuzilar..

O Goleiro treinou duro, sempre no pôr do sol, após todos seus companheiros abandonarem o campo, ele ficava horas pulando em direção ao ângulo esquerdo.

No dia do jogo, surpreendentemente, o Flamengo jogou mal. O Time era reserva, mas ótimo, incomparável com esse de hoje em dia. O jogo estava 0x0, Artur era pouco exigido, e Zico só entrara aos 35 do segundo tempo.

Artur parecia decepcionado com o fato de que Zico não bateria uma falta naquele jogo. Seu time batia muito, mas sempre longe da aérea. Foi o que seu treinador – precursor do Muricy – pedira.

Zico, aos 42, foi buscar a bola na altura do meio de campo. De costas colocou no vazio do lado esquerdo, Júnior correu e chegou milímetros antes do zagueiro. Adiantou muito a bola, para passar por ele, parecia que a bola ficaria com zagueiro que estava na sobra. Mas, Júnior esticou a perna e levou a melhor. Os segundos que deixaram o zagueiro sem a bola, quase deixaram Júnior sem as pernas. Falta, Zico vai cobrar.

Artur tinha total confiança, treinará muito, sabia que defendendo poderia dizer a todo mundo que pegou uma falta de Zico, aos 42, com o maracanã cheio e garantindo o empate.

Zico foi para bola, Artur deu um, dois passos e pulou. Ela vinha devagar, parecia mais fácil do que era. Já sorrindo viu a bola passa entre sua mão e a trave, naquele espaço, que só os deuses do maraca conhecem. E que nenhum estudioso do universo imagina que exista.

Artur chorou, ninguém viu. Um choro de criança, livre, sem injúria, só constatando a dor da derrota. Não havia como culpar o juiz, nem a torcida. O culpado era Zico. A vitória inquestionável.

Tão certo como dois e dois são quatro. Tão certo, quanto os chutes de Zico. Tão certo quanto o flamengo sempre jogou com doze. Mas houve tempos, em que ele era apenas um espírito que rondava a área adversária e botava a bola no ângulo.