quarta-feira, 5 de março de 2008

Suprema Ignorância



O discurso secular da direita, constantemente, soa como velho. Por isso muda-se o nome dos partidos, os personagens centrais e, até mesmo, foco da discussão. Desde que velhos conceitos e interesses se mantenham intactos. É justamente isso que acontece na polêmica que envolve o uso de células-tronco em pesquisas.

Há setores reacionários, que acreditam em uma espécie de determinismo teocrático. Segundo eles, pobres, doentes e loucos nascem assim pela vontade de Deus, e qualquer tentativa de mudar essa situação seria um sacrilégio.

Mas o estado brasileiro é laico, e a lei de Deus não vale no Congresso. Por isso, a bancada cristã contrária a pesquisa com células-tronco foi derrotada. Mas a questão foi para no Supremo Tribunal de Justiça (STF). Tudo porque para o ex-procurador geral da República, Claudio Fontelles, a pesquisa não só fere à lei de Deus, como à lei dos homens.


Para ele, a pesquisa fere o direito dos embriões à vida: "Há um artigo na constituição que diz que para constituirmos a dignidade é o princípio da inviolabilidade da vida que não pode ser eliminada,"afirma. Ou seja, para manter a sua crença, Claudio Fontelles recorreu a um artigo confuso e subjetivo da constituição, não totalmente livre da crenças cristãs.

Um artigo meramente especulativo, que devaneia fora da linha de tempo espaço que deve restringir qualquer lei. Dizer onde começa a vida é no mínimo uma pretensão, pois durante séculos não se obteve uma resposta exata, por parte da ciência, acerca do assunto.

Além disso, trata-se de uma contradição para uma constituição que se diz laica. Seria como se a lei determinasse que Deus criou o universo, que Madalena não teve um caso com Jesus. Enfim, como se a lei, resolvesse palpitar em questões milenares sem uma resposta definitiva.

Ao relembrar tão contraditório artigo, Claudio Fontelles, deveria ter o bom senso de repensá-lo. Mas não, é mais fácil matar embriões, do que se enterrar um velho preconceito.

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