quinta-feira, 29 de maio de 2008

O Eterno Retorno


Zé Carlos foi para a bola, sob o meu descrédito e as vaias de mais 60 mil corintianos. Bateu, Felipe defendeu. Acabou. Era o último acorde de uma ópera, a gota que resta, a veia que salta, o desfecho da festa.

Enquanto isso, o tricolor (único) de Chico empatava com o Boca fora de casa. Se tornava, talvez, o time mais respeitado da América e talvez o que mais respeite na América o Botafogo, de quem perdeu três vezes, neste ano. Puro Paradoxo.

Sentei para tomar alguma coisa. Prometi que nunca mais veria futebol, além de ir andando da São Clemente até a Siqueira Campos. Parei, pensei. Talvez, Cuca devesse mesmo sair do Botafogo. Só Nietzsche faria aquele time forte. Mas não sei se daria certo diante de uma torcia tão schopenhaueriana.

Segui pelas ruelas de Botafogo, rumo á Copacabana. Lugares perigosos, daqueles que nossa mãe teme e pede para que não passemos. Balela, os tempos são outros. A morte já esta banalizada. Escasso, mesmo, são os gols. Esses, sim, tem peso de uma vida. E ontem eu tinha morrido duas vezes, permanecido vivo e agora era um corpo sem alma vagando pela rua.

Um menino de rua me pediu umas moedas. Eu não tinha, nem as moedas, nem idéia de sua dor - nem ele da minha. Minha dor era uma dor da classe média, adquirida na prateleira, ao lado das giletes, dos enlatados – bem longe da felicidade. Em frente à sede do Botafogo, escapou da minha garganta, o hino do clube. Desisti também da idéia de ir a pé pra casa e chamei um táxi.

Quando acordei hoje, de uma noite mal dormida em que sonhei, não sei quantas vezes, com outro final para a partida, me belisquei. O Botafogo estava mesmo fora, na rua me deparei com um sol desrespeitoso – todo torcedor deveria ter direito á um dia chuvoso em caso de derrota.

Mas minha maior surpresa, foi ver que a primeira bandeira do dia que eu avistei era do Botafogo. E o Botafogo estava presente também em camisas, espalhadas pela cidade. Solitárias, posto que estrelas.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Bravo Tricolor

Já faz uma semana, mas os séculos serão insuficientes para se esquecer do que aconteceu quarta passada, no Maracanã. Maracanã não é um estádio, é um templo onde o impossível se torna improvável e volta e meia se torna, também, realidade.

Há espaços, nele, que só seus maiores arcanjos conhecem e sabem como utiliza-los. Quarta, o Fluminense e seu querubim, Tiago Silva - com potencial para ser arcanjo - venceram graças a esses espaços indetectáveis, pelos estudiosos da tática.

Conca soube usa-los em seus dribles, Thiago Silva evitou que Adriano os usasse, Dodô – O anjo caído – soube encontrar um desses buracos entre as pernas de Rogério Ceni, Thiago Neves achou outro no meio de três zagueiros e Washington estava lá com sua cabeça.

O Fluminense era um garoto inexperiente e franzino, de 19 anos. O São Paulo um império - ou um imperador - hegemônico sempre ressurgindo das crises. Mas Adriano se apequenou diante de Tiago Silva. A habilidade sucumbiu a força, a aceleração e a velocidade. Mostrou que as máquinas no futebol são movidas por paixão e habilidade, e o pragmatismo não cabe, pelo menos no tempo sagrado do futebol.

terça-feira, 20 de maio de 2008

O anjo caído, e a volta de Amado Pinheiro

Onze, entre dez, analistas da mídia previam uma irreversível perda de espaço dos veículos impressos para outras mídias. Os jornais despencavam em queda livre de uma varanda, quando se depararam com inúmeros balões de gás hélio e foram temporariamente salvos

É isso que constatou uma pesquisa do projeto Inter-Meios, parceria do jornal Meio e Mensagem com as principais empresas de comunicação do Brasil. Segundo ela, a receita publicitária cresceu em média 15,48%, em relação a maio de 2007.

Vale lembrar, que já em maio de 2007, os jornais haviam registrado aumento das receitas publicitárias. Mas vale lembrar também, que esse crescimento está recheados de variáveis que podem aumentar consideravelmente a venda de jornais, como por exemplo; grandes crises econômicas e escândalos nacionais.

Olhando por esse lado, a família Nardoni e sua novela funcionaram como balões de gás-hélio, que impulsionaram as vendas dos jornais. Ou seja, através da cobertura a lá Amado Pinheiro – personagem de Nelson Rodrigues – dada ao caso do anjo caído, os jornais voltaram a respirar.

Basta saber o que fazer quando o balão murchar, ou, pelo menos, ter mais prudência do que o aquele famigerado padre e não tomar um caminho sem volta. È preciso que a mídia impressa sobreviva, mas sem vender sua alma à publicidade. Isso seria um coma induzido.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

As Balas são outras

Quinze dias após o MP proibir a passeata pela legalização da maconha, a Prefeitura de São Paulo obrigou todas as boates a oferecerem água grátis, para seus frequentadores. Não se trata de um avanço no debate sobre as drogas, apenas demonstra que a classe média paulistana tem muito mais força, do que a carioca.

Só irei acreditar que a sociedade realmente evolui no que tange a questão dos dependentes, quando a classe média paulistana lutar em prol dos dependentes de craque. Ou, quando, a classe média (alta) carioca quiser a legalização da maconha, não porque seu dinheiro – através da mesada, dada aos filhos – está indo para o bolso da PM corrupta, e sim, porquê o baseadinho fumado da varanda de seus apartamentos, gera problemas graves na Vila Cruzeiro.

Não se trata de construir um discurso alá Tropa de Elite, mas apenas identificar qual os verdadeiros problemas que a droga acarreta. Muito mais urgente do que evitar constrangimentos no posto 9 ou casos de desidratação na Villa Olímpia, é preciso preservar aqueles que sequer usam drogas, mas que, ainda assim, morrem por ela.

Seja nos morros cariocas, Seja na crackolândia paulistana.

Até hoje, o que se vê de discussão acerca dos usuários, na verdade não passa de uma mobilização da classe média para adiantar o lado dos seus filhos. È uma discussão válida, pois a politica de redução de riscos é urgente.

Mas, mais urgente ainda é o direito à vida daqueles que nem usuário são. Daqueles, vítimas de balas muito menos colorida do que a classe média imagina.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Há vida sem as organizadas



Fui ao jogo do Botafogo, nesta quarta, no setor do Engenhão dedicado aos clientes de uma cartão de crédito.

Não sei se sou contra ou a favor, desta privatização – que pode ser apenas uma privação. Acho que o futebol é magico por devolver à sociedade capitalista valores tão ausentes nela. O grande problema é que o futebol já se privatizou e os clubes que se recusarem a esse processo, podem cair no ostracismo.

Pensando por esse lado, o setor é uma brilhante idéia. Bem menos fanfarão que o marketing ufanista rubro negro. Cadeiras numeradas, por um preço dentro da média; dezenas de mocinha bonitas para dar informações aos torcedores e uma suntuosa decoração. Fotos que contam a história do Botafogo para os mais novos, tecnologia avançada para impressionar os mais velhos. Além de banheiros, muito mais limpos do que de qualquer shopping center.

Por um momento, imaginei jornalistas estrangeiros vindo ao Engenho de Dentro para narrar a reestruturação de um clube brasileiro, que revelou Garrincha. Falariam tudo o que eu falei, e acrescentariam a ausência da organizadas.

Mas estamos no Brasil, e o Brasil sem os brasileiros não é o mesmo. Nas arquibancadas as organizadas faziam falta. Faltavam bandeiras, faixas, tambores. Havia pouca gente no estádio e somente o retumbar de um surdo, para envolver todo o estádio e transformar aquela torcida em uma coisa só.

Mas aos poucos, os torcedores órfãos e desorganizados aprenderam a se virar. Cada um da sua maneira, apoiava o time, com a espontaneidade que o torcedor botafoguense tanto tem. Essa coisa de massa uniforme é bonito lá pros lados da Gávea ou da Alemanha.

No momento do gol, cada setor do estádio entoava um grito, todos com o mesmo mote. E de fatos os jogadores sentiram.

As organizadas sempre serão bem vindas, desde que saibam que não são donas do clube e que não farão tanta falta assim. Afinal, a estrela não se incomoda de estar solitária.

Galinha verde

Da revista :: Zé pereira

O deputado federal Jair Bolsonaro desrespeitou ontem o ministro da Justiça, em reunião da comissão da Câmara sobre a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol, acusando-o de "amigo de terroristas". Tarso Genro rebateu chamando-o de nazista e Bolsonaro deve ter rido por dentro. Porque Bolsonaro não é nazista. É apenas um espertalhão que vende uma visão deturpada de honestidade para cidadãos pouco esclarecidos. Para ele, o xingamento do ministro foi uma vitória. O seu eleitorado gosta.

Fosse honesto, Bolsonaro não se locupletaria às custas daquilo que diz desprezar, a democracia. Em vez de estar na Câmara, estaria de pijamas conspirando num clube militar. Mas, esperto que é, ganha a vida enganando militares ingênuos que acreditam que ele está na política para defender os direitos deles. E faz isso tão bem que levou a sua corriola a reboque - tem filho vereador, filho deputado estadual e chegou a eleger a mulher também.

Não há diferença entre Bolsonaro e Fernandinho Beira-Mar: ambos negociam o ilícito. Só que o esperto Bolsonaro se faz valer das vantagens do foro privilegiado. Sabe que pode falar e fazer o que bem entender que jamais vai ser preso. Finge combater a impunidade e a usa em proveito próprio. Diz que é a favor da tortura, da supressão dos direitos individuais e até da execução sumária. Durante a campanha do referendo das armas, chegou a dizer que atiraria numa criança que se aproximasse dele na rua - e aí, juiz Roberto Câmara Lacé Brandão, isso não é apologia ao crime não? E sabe que a sua maior bandeira, a pena de morte, é um tremendo engana-trouxa, pois não há a menor possibilidade de que ela venha a ser adotada legalmente no Brasil.

Porém, mais do que espertinho, Bolsonaro é um fanfarrão boçal que só conhece a força como argumento. Na hora do pau, deixaria as penas para trás, como fizeram os integralistas.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Vai a ministra, vem o assessor

Chico Buarque sempre foi implacável com as mulheres; Ana, Cecília, Iracema, Rita e outras. Seu xará, o Santo que dá nome ao Rio, desta vez, derrubou Marina.

Menina direita, posto que da esquerda, do interior, trabalhadora comprou uma briga feia por Chico. O achava intransponível. Se desgastou demais com sua família – a base aliada - e caiu. Não havia clima para ficar, vai ter de se mudar.

Vai pro mundo, ou melhor, para o Senado.

E o mais engraçado de tudo, foi que o sempre inacessível Lula, não disse nada sobre o assunto. Não disse nada à imprensa, pois disse a Aécio Neves, que repassou a informação aos jornalistas.

Lula perdeu uma Ministra, mas ganhou um assessor. Ou melhor, ganhou, talvez, um sucessor...

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Os Democratas e a Nação

Conceitos estão sempre á merce de serem desmentidos pela realidade. Mas algumas instituições precisam de um mínimo de bom censo, na hora de se auto-conceituarem através da palavra. É o caso do Partido dos Democratas e do Flamengo – time de raça amor e paixão.

Comecemos pela política. José Agripino Maia, do DEM, conseguiu ajudar Dilma Roussef a fazer o impossível. A ministra ia falar sobre o PAC, o maior factóide do governo. Além disso, teria que tratar do Dossiê contra FHC. Um tremendo abacaxi.

Mas com a pior da intenções, José Agripino Maia ajudou a descascá-lo. Foi dizer que ela mentiu aos agente da ditadura, que ele tanto apoiou. Resultado; Dilma ficou horas dissertando sobre seu passado de lutas, lembrou o passado obscuro do Senador e nem precisou a falar de seu presente ou futuro – no caso, a candidatura à presidência.

Já o Flamengo (há o Flamengo). Time de macho, não chora, não amarela, joga pra frente, tem um técnico genial, um artilheiro iluminado e uma torcida que não o deixa perder no Maracanã. Pois bem, isso na cabeça dos homens fortes do Flamengo.

Aliás esses homens fortes, em especial Márcio Braga e Michel Assef deveriam tirar o nome Flamengo do futebol. Para eles, o Flamengo deveria ser uma empresa de advocacia ou um bloco popular – ou melhor populista, como o time – na Gávea, para aristocracia de lá, no qual entrariam negros e pobres para animar a festa. Afinal, no âmbito jurídico e de promoção de festas o Flamengo tem dado show.

Mas em campo, a torcida se calou, chorou – assim como os jogadores -, o artilheiro iluminado dessa vez desviou para o próprio gol e o time do técnico genial tomou um gol de contra-ataque, quando ainda tinha ótima vantagem, mas perdia o jogo.

Assim o América também descascou seu abacaxi, com o gordinho Cabañas (Casa de Banhãs?)

E hoje o pessoal do “onde estiver estarei”, sumiu. E o pessoal do DEM, apareceu - até nos jornais – como vilões. Fazer o que se a vezes não dá pra ficar só no mundo das idéias? O pessoal da estrela – solitária ou vermelha – tá rindo a toa.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

O Efeito Ronaldo

O Sr. PT, em 2002, quando saía, embriagado, da estrutura rumo à conjuntura, resolveu abordar uma garota de programa.

Não era um garota da Avenida Atlântica – leia-se Senado – como a lady Pmdb ou a lady DEM (que na época se chamava PFL). Era uma garota da Barra, fruto da nova burguesia, que se chamava lady PL.

Em 2005, curado do porre, com toda sanidade que o governo exige, o PT caiu na real. No meio da crise do mensalão mandou o “travecão” ás favas.

Lady PL, tomou um banho de loja, passou horas no salão, fez depilação à laser e mudou de nome. Se apresenta, agora, como lady PR. E ao que parece, o Sr.PT vai desfrutar de seus serviços nas eleições desse ano. A séxologa Marta Suplicy é uma da idealizadoras. Relaxa e Goza!

De Casto Alves a Pinóquio

"A estupidez é a essência do preconceito.”

A frase é meio vazia, até certo ponto óbvia. Não sei em que contesto foi dita, nem seu autor. Mas rendeu a Gustavo Castro Alves, uma tremenda dor de cabeça. Por culpa dela, o advogado foi detido e vai responder processo, por apologia ás drogas.

Na verdade, não foi exatamente a frase que lhe rendeu tamanha dor de cabeça. Na verdade foi o imperativo que lhe seguia: “Legalize Cannabis”. Mas do que isso, foi também o local onde foi exibida; no Arpoador, zona nobre carioca. Em Bento Ribeiro, não aconteceria nada.

A verdade é que a prisão dele é próxima do ridículo. Se eu saio com uma camisa escrita legalize o aborto, ou legalize a união de homossexuais, não estou tentando convencer ninguém a abortar ou virar gay. Estou apenas lutando pelo direito dos que já estão convencidos a fazerem aquilo – e farão, independe desse delírio dionisíaco chamado lei.

O caso de Gustavo não é diferente. Ele como advogado tentou dar uma solução legal ao problema das drogas, mas foi reduzido a um publicitário de um produto ilegal. Sua frase era de protesto e não uma assinatura de campanha.


Há quem acredite que a sociedade é feita de fantoches e que qualquer frase mais incisiva, possa ser uma apologia. Pode ser. Mas se for o caso, chamem o “Gepeto” para liberarem o “Pinóquio”. Mas não impeça o grilho de cantar...

segunda-feira, 5 de maio de 2008

O “Cansei” do Carioca


Ver crianças com o rostinho do meu filho fumando maconha na praia é muito triste - Argumentava a vereadora Silvia Pontes (DEM-RJ), organizadora da marcha contra a maconha, promovida, neste domingo, em Copacabana. A marcha seria um contraponto em relação a marcha pela legalização da maconha. Seria, isto porque o MP proibiu a manifestação que ocorreria no posto 9.

Silvia era um retrato das pessoas envolvidas, na marcha-contra-marcha. Reacionários da velha (Partido Integralista) e nova (DEM) geração, com argumentos egoístas e infantis, davam um clima de revolta de elite à manifestação. Aos moldes do “Cansei” paulista

A semelhanças não eram só essas. Tanto lá, como cá, o choro gratuito da meia dúzia tinha apoio de uma ala retrógrada do judiciário, aquela mesma que proíbe a pesquisa com células-tronco.

Se no cansei haviam os que se diziam ex-pobres, na marcha havia os que se diziam ex viciados. Lá, – os ex pobres – eram, na verdade, estudantes de colégio público, hoje membros da Fiesp. Cá, – os ex viciados – usaram maconha três vezes e hoje são do remo do Vasco.

Nada contra o Vasco, Flamenguistas e Botafoguenses estavam no Maracanã e o fluminense não tem remo.

Lula não passou em branco e foi culpado pela rodinhas de baseado no posto 9. Até mesmo a ironia dos movimentos era a mesma. Ou seja, a manifestação tendo seus propósitos invertidos.

Lá, havia o questionamento á um presidente eleito. Cá, o questionamento a uma discussão, mais que cabível, urgente. Nos dois casos, o movimento era fruto de um preconceito que esconde interesses não divulgáveis.

Se faltou quorum aos cansados. Também faltou fôlego aos saudáveis moralistas, que saíram do posto 5 e nem chegaram ao 6.

Os cansados daqui viraram fumaça.