quinta-feira, 15 de maio de 2008

Há vida sem as organizadas



Fui ao jogo do Botafogo, nesta quarta, no setor do Engenhão dedicado aos clientes de uma cartão de crédito.

Não sei se sou contra ou a favor, desta privatização – que pode ser apenas uma privação. Acho que o futebol é magico por devolver à sociedade capitalista valores tão ausentes nela. O grande problema é que o futebol já se privatizou e os clubes que se recusarem a esse processo, podem cair no ostracismo.

Pensando por esse lado, o setor é uma brilhante idéia. Bem menos fanfarão que o marketing ufanista rubro negro. Cadeiras numeradas, por um preço dentro da média; dezenas de mocinha bonitas para dar informações aos torcedores e uma suntuosa decoração. Fotos que contam a história do Botafogo para os mais novos, tecnologia avançada para impressionar os mais velhos. Além de banheiros, muito mais limpos do que de qualquer shopping center.

Por um momento, imaginei jornalistas estrangeiros vindo ao Engenho de Dentro para narrar a reestruturação de um clube brasileiro, que revelou Garrincha. Falariam tudo o que eu falei, e acrescentariam a ausência da organizadas.

Mas estamos no Brasil, e o Brasil sem os brasileiros não é o mesmo. Nas arquibancadas as organizadas faziam falta. Faltavam bandeiras, faixas, tambores. Havia pouca gente no estádio e somente o retumbar de um surdo, para envolver todo o estádio e transformar aquela torcida em uma coisa só.

Mas aos poucos, os torcedores órfãos e desorganizados aprenderam a se virar. Cada um da sua maneira, apoiava o time, com a espontaneidade que o torcedor botafoguense tanto tem. Essa coisa de massa uniforme é bonito lá pros lados da Gávea ou da Alemanha.

No momento do gol, cada setor do estádio entoava um grito, todos com o mesmo mote. E de fatos os jogadores sentiram.

As organizadas sempre serão bem vindas, desde que saibam que não são donas do clube e que não farão tanta falta assim. Afinal, a estrela não se incomoda de estar solitária.

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