quarta-feira, 19 de março de 2008

O homem, o menino e nós...


Era um Colora pomposo e preto, um motorista branco, tão robusto quanto o carro. Igualmente agressivos, o carro e o dono, cada cal a sua maneira. O primeiro estacionado, o segundo inerte, na sua ignorância, chacoalhando um menino. Iguais a milhares, de cabelos ralos e oxigenados, de camisa de colégio público.

Sua mãe e seu pai, sabem que você rouba? - Dizia o homem que se dizia policial.

O menino nada falou. O Homem não estava nem ai para sua resposta, como não se importaria se ele nem tivesse pai ou mãe. Para os policiais - que se orgulham de não terem nível superior - muitos verbos são intransitivos: questionar, agredir, humilhar e extorquir.

O homem segurava uma faca, as pessoas ao redor, diziam que ela foi usada para ameaçar a filha dele.
Tudo isso acontecia em frente ao colégio que o menino estudava.

Todos para dentro! Berrava a professora

Senta ai! Esgoelava o homem

Ambos com uma autoridade perplexa, diante da complexidade do fato. Tendo como combustível a ira e como resultado o medo - que com certeza se tornará revolta.

As crianças entraram, o menino sentou.

O olhar das crianças era de perfeita compreensão, pois a sociologia da miséria não tange os policias, muito menos os professores. A faca foi entregue a professora. Era uma faca dessas de restaurantes populares, sem serra. Inofensiva, se comparada a outras armas que existem por ai, como imunidade parlamentar, por exemplo.

Apenas uma senhora defendia o menino, com o argumento óbvio, de que violência não se combate com violência. Mas vai dizer isso a professores e policiais que tem o compromisso social intransigente de conseguir compra um Corola.

Os demais tinham seus segundos de especialistas em segurança. Palpitavam em qual a melhor punição para o menino. Lembravam de inúmeros casos de violência urbana. Mas não pensavam em questionar em como um policial, por melhor remunerado que fosse, teria uma carro de 150 mil reais. Isso porque, ele admitiu ter quatro filhos.

As vezes, as taxas de criminalidade me surpreendem. Dada a precariedade da sociedade, deveriam ser bem maiores.

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