segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Nesse o Bope não meteu a mão



Não fui convidado para a festa de lançamento, e como o filme não caiu nas mãos dos camelôs, eu ainda não vi. Apenas li o livro, que é muito bom. Mas na ditadura visual que vivemos, livros vão muito aquém dos filmes. Portanto, sem sua versão na sétima arte, muitas histórias permanecem anônimas. Foi Assim com Tropa de Elite – Elite da Tropa - será assim com Meu Nome Não é Johnny.

As semelhanças entre as duas obras, não param por ai. A duas falam de drogas, mais especificamente, tráfico de drogas. Mais especificamente ainda, da influência da elite no mercado da droga.

Porém a visão é bem diferente. No Elite da tropa, há uma análise sociológica, que não se aprofunda muito nas questões da psique humana. Há a tentativa de se criar um estado capaz de sanar o problema. Talvez por isso o filme pareça fascista, quando na verdade se baseia em uma obra absolutista, como toda obra que tende a construir um modelo de sociedade.

Já Meu Nome Não é Johnny, vai no indivíduo e mostra a incapacidade de todos os modelos societários diante do problema da droga. Mostra que a droga surge como alternativa a falta de liberdade que sustenta qualquer civilização, e, por isso, ela jamais será extinta.

Isso talvez seja a resposta para quem tenta explicar o que leva um filho da burguesia a entrar para o tráfico. Funcionamos sob a lógica da oferta e da procura. Se há quem procure, há quem oferte. E João Guilherme Estrela, O Johnny ofertou.

Cresceu no meio da elite, onde enriquecer era o que importava. Nas horas vagas pegava onda, ia ao maracanã ver o Vasco e dava uns tapas e uns tiros. Pra saldar uma dívida, vendeu seus primeiros papelotes. Mas era carismático e na mão dele a mercadoria vendia rápido.

Conseguiu independência financeira, viajou à Europa, deu festas, frequentou a alta sociedade. Foi um exemplo de bom burguês, um ótimo comerciante, mas sua mercadoria era pó. E Johnny foi preso.

Essa é a ideia que eu consegui extrair do livro. O Filme pode realçar outros aspectos – ou nenhum, pois como o Tropa é cultura pop. Pode ser que o filme crie um novo herói, inimigo do soldado Nascimento. Pode ser que assim como pessoal hoje está achando tortura legal, ache tráfico um ótimo investimento. Pode ser que quem chamou Padilha de Fascista, chame Mauro Lima de subversivo.

Enfim, impossível prever a repercussão do filme. Tamanha as distorções feitas pelo público e pela crítica, sedenta por opiniões, tão ausentes na sociedade. E assim tentam matar essa sede bebendo na cultura Pop. Um erro.

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